O que estaria escondido por detrás do conto de fadas “João e Maria”? Fato ou farsa?!
Um pouco sobre a concepção do conto...
Na realidade, “João e Maria” é o nome dado no Brasil ao conto folclórico alemão “Hänsel und Gretel”, que teria como tradução “Joãozinho e Margaridinha”. Tinha uma forte tradição oral, até que foi coletado e compilado pelos irmãos Grimm, autores de diversos contos clássicos que eram oralizados todas as noites nas casas das cidades e vilas europeias.
Para quem não tem ideia, a maior parte dos contos dos Grimm eram traços folclóricos orais, contados ao redor do fogão a lenha, principalmente nos territórios hoje compreendidos pela Alemanha, Áustria, Polônia, Holanda e Dinamarca. Eles não são criadores, mas somente compiladores destes contos de fadas; alguns deles foram até modificados para terem um conteúdo mais palatável para outras crianças do mundo.
Um dos conteúdos modificados em “João e Maria” do original que era contado boca a boca na Alemanha do século 18 era que, em vez de as crianças simplesmente se perderem na floresta porque estavam brincando nas trilhas próximas de casa, na realidade, este conto relatava a aventura dos filhos de um pobre lenhador, que em acordo com a mulher, decide largá-los na floresta porque a família não tem condições para mantê-los, na esperança que uma fera os devorasse. Ou seja, originalmente mais parece um conto de terror e infanticídio.
Mais análises do conto...
A história publicada pelos Grimm tem um final feliz e um enredo diferente do original, que mostrava a dureza de vida dos pobres aldeões na Idade Média, que passavam fome constantemente e viviam sob a égide da subnutrição. Na Europa Central, inclusive, há registros de prática de canibalismo durante rigorosos invernos – situação que a bruxa iria fazer com as crianças. Devido à fome e à constante escassez de comida, o homicídio infantil era uma prática comum na Idade Média. Nesta história os irmãos são deixados no bosque para que morram ou desapareçam porque não podem ser alimentados pelos pais.
Outro ponto importante é que até mesmo nas primeiras edições publicadas pelos Grimm, a mãe era a responsável pelo abandono das crianças. Entretanto, no século 19, no moralismo vitoriano, mudaram para a madrasta, que passou a ganhar o tom de mulher malvada e que maltrata os filhos do marido, pensamento que permanece até hoje. Esta mudança, como na “Branca de Neve” (outro conto folclórico alemão adaptado pelos irmãos), parece ser uma atenuação deliberada da violência contra as crianças para as mães modernas que não suportariam ouvir sobre mães que ferissem os próprios filhos.
O fato de que a mãe ou madrasta tenha morrido quando as crianças matam a bruxa é porque a mãe ou madrasta e a bruxa são, de fato, a mesma mulher, ou pelo menos que a personalidade delas está fortemente ligada. Além de porem as crianças em perigo, têm a mesma preocupação pela comida: a mãe ou madrasta para evitar a fome, e a bruxa com a casa feita de comida e o seu desejo de comer as crianças.
No final da história original não há final feliz, como fizeram os irmãos Grimm. Maria é morta depois de ser devorada por três lobos na floresta enquanto voltava para casa. Aí está um conteúdo moralizante: as crianças não deviam vagar sozinhas em lugares ermos por conta dos perigos: o primeiro da bruxa pagã, e o segundo das feras soltas nas florestas.
Difícil imaginar que um conto que parecia tão simples era contado de boca em boca, nos séculos 17 e 18, como uma forma de educar as crianças através de imposição da realidade dura, canibalismo, infanticídio e pura miséria. Entretanto, este não é um caso isolado; em breve falaremos de outros contos de fadas tradicionais, como “Branca de Neve e os Sete Anões”, “Cinderela”, “Alice no País das Maravilhas” etc
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