por Luciano Subirá
Desde que comecei a
publicar
meus livros, sempre repeti o mesmo ritual: pegava o primeiro exemplar
que me chegava às mãos, e fazia nele uma dedicatória à minha esposa. A
Kelly sabe que o primeiro exemplar sempre é dela. Para a
leitura do livro
(ou mera recordação), não faz a menor diferença se você pega o primeiro
ou o último livro, mas por que sempre fiz isto? Porque através deste
ato sempre quis refletir que minha esposa é a pessoa mais importante
para mim e que quero sempre distingui-la das demais. A importância de
separar para ela o primeiro livro é por cultivar dentro de mim um valor,
não porque o primeiro exemplar seja diferente dos demais no aspecto
prático.
Este é o princípio
que Deus
usa na Lei das Primícias. Ao pedir os primeiros frutos, Deus queria ser
distinguido no coração de seus filhos. A entrega das primícias é uma
forma de dar honra ao Senhor:
“Honra ao Senhor com os teus bens e com as primícias de toda a
tua renda; e se encherão fartamente os teus celeiros, e transbordarão de
vinho os teus lagares”. – Provérbios 3:9,10 Ao mencionar a necessidade de dar honra ao Senhor em nossas
finanças,
a Palavra do Senhor fala sobre nossos bens e também sobre as primícias
de nossa renda. Não se trata apenas de honrá-lo com nossos bens e nem
tampouco de honrá-lo com a nossa renda, mas com as PRIMÍCIAS da renda. A
definição que o Dicionário Aurélio dá acerca de primícias é: “Primeiros
frutos; primeiras produções; primeiros efeitos; primeiros lucros;
primeiros sentimentos; primeiros gozos; começos, prelúdios”. A definição
bíblica não é diferente. Por trás de toda uma doutrina fundamentada em
ensinos explícitos e figuras implícitas, as Escrituras nos mostram a
importância que Deus dá ao ato de entregar-lhe as primícias, ou os
primeiros frutos, a primeira parte de algo.
Deus não instituiu as ofertas porque precise delas, mas para provar nosso coração numa das áreas onde demonstramos
grande apego.
Com a lei das primícias não é diferente. Deus não precisa dos primeiros
frutos, nós é que precisamos d´Ele em primeiro lugar em nossas vidas, e
este é um excelente exercício para manter nosso coração consciente
disto. Lemos em Números 13:13 que se o primogênito (considerado primeiro
fruto do ventre) da jumenta não fosse resgatado, seu pescoço deveria
ser quebrado. A importância na Lei das Primícias não estava no que seria
feito com elas, mas no princípio de não fosse utilizada em benefício
próprio.
Entregar ao Senhor as primícias de nossa renda é dar-lhe honra. É
distingui-lo. É demonstrar o lugar especial que Ele ocupa em nossas
vidas. Deus quer ser o primeiro em nossas vidas. A rebelião de Satanás
foi tentar usurpar esta posição divina. E hoje ele ainda tenta tomar o
trono de Deus nos nossos corações. Mas devemos manter o Senhor em seu
devido lugar.
A Bíblia está repleta de histórias de gente que manteve Deus em
primeiro lugar
em suas vidas a despeito do preço a ser pago. Abraão se dispôs a
sacrificar seu próprio filho, mas não se atreveu a deixar de dar a Deus o
primeiro lugar. José foi para a cadeia para não pecar contra Deus numa
relação adúltera. Sadraque, Mesaque e Abede-Nego foram lançados na
fornalha por recusarem-se a dar a uma estátua o lugar que pertence só a
Deus. Daniel foi lançado numa cova de leões pela decisão de manter Deus
em primeiro lugar. Os apóstolos foram presos e açoitados porque
importava antes obedecer a Deus do que aos homens. Estes são exemplos
positivos que nos inspiram a seguir as mesmas pegadas dos que agiram de
modo correto, mas também há os exemplos negativos de gente que não fez
de Deus o primeiro em suas vidas, e tornaram-se um exemplo a não ser
seguido.
Além destas figuras e exemplos, o ensino explícito de Jesus não deixa dúvidas sobre a importância do assunto:
“Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas”. – Mateus 6:33
A Concordância de Strong mostra que a palavra grega traduzida como
“primeiro” neste versículo é “proton” e significa: “Primeiro em tempo ou
lugar; em qualquer sucessão de coisas ou pessoas. Primeiro em posição;
influência, honra; chefe, principal”. Quando fui batizado no do Espírito
Santo, minha vida mudou da água para o vinho. Cresci num lar cristão e
tive meu encontro com Cristo muito cedo. Mas somente aos quinze anos de
idade conheci a pessoa do Espírito Santo e minha vida em Deus parece ter
começado neste ponto. No fim de semana que tive esta experiência e
disse para Deus que agora o queria em primeiro lugar na minha vida, Ele
me pediu que fizesse a minha primeira renúncia: que eu me desfizesse
daquilo que mais amava, minha bike! Nesta época eu passava a maior parte
de meu tempo livre treinando manobras de freestyle nesta bicicleta e
não havia nada naquela época que eu amasse tanto como aquela bike
especialmente montada. Nossas condições financeiras não nos permitiram
ter uma bicicleta. A única bicicleta que eu e meus irmãos tivemos antes
disto foi a que ganhamos de uma Tia, que por sua vez ganhou num sorteio.
Mas juntei meu próprio dinheiro fazendo meus bicos aqui e acolá e
consegui montar uma das melhores bicicletas do gênero em meu bairro…
Quando o Senhor me pediu que a entregasse, foi como entregar um Isaque
no altar, mas eu o fiz! Esta foi a forma (que meu coração entendeu
naquela época) de colocar Deus em primeiro lugar na minha vida.
Quando damos a Deus o primeiro lugar não nos frustramos. Pelo
contrário, há um senso de realização interior que comprova que fomos
criados para isto. Sem Deus em primeiro, há um desequilíbrio em nossas
vidas.
PRIMÍCIAS NO NOVO TESTAMENTO
Alguns crentes têm dificuldade com qualquer menção de princípios
ligados ao Velho Testamento e, antes de aceitarem qualquer doutrina, já
começam indagando qual é a base disto no Novo Testamento? Pois bem, na
igreja do Novo Testamento não se guardava mais a lei de Moisés com o
peso das ordenanças que ela tinha no Velho Testamento. O Concílio de
Jerusalém deixou
claro
que não havia encargo algum a se impor aos gentios além daquelas quatro
áreas mencionadas: guardar-se da carne sufocada, do sangue, do
sacrifício aos ídolos e da prostituição. Isto não quer dizer que depois
do Concílio a igreja gentílica não precisasse de mais nenhuma instrução
ou doutrina, senão o Novo Testamento não teria sido escrito. Aquilo
limitava, naquele momento, a herança judaica a ser passada aos gentios.
Contudo, posteriormente, ao ensinarem os princípios para a igreja
neotestamentária, os apóstolos ainda apresentavam figuras poderosas para
fortalecer doutrinas da Nova Aliança pré-figuradas naquilo que se fazia
anteriormente nos dias do Velho Testamento. Não significava que estavam
tentando retroceder ao passado, e sim que queriam esclarecer as figuras
que Deus havia projetado por intermédio daqueles princípios praticados.
“Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem
real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com
os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem”. –
Hebreus 10:1(TB)
A sombra é diferente da imagem real que a projeta. Assim também, o
que se via nas ordenanças da Velha Aliança eram características
similares (em ordenanças literais) as dos princípios que Deus revelaria
nos dias da Nova Aliança (práticas espirituais). O cordeiro sacrificado
na lei mosaica foi apontado como uma figura (ou sombra) de Jesus que
veio morrer em nosso lugar (Jo.1:29). A oferta de incenso do Tabernáculo
passou a ser reconhecida como uma figura da oração dos santos (Ap.5:8).
A ceia da Páscoa deixou de ser praticada e esta festa passou a ser uma
aplicação dos
princípios que ela figurava (I Co.5:7,8). Assim também, outros detalhes
da Lei que envolvia comida, bebida e dias de festa, começaram a ser
vistos não como ordenanças literais pelas quais quem não as praticassem
pudessem ser julgados, mas como uma revelação de princípios espirituais,
cabíveis na Nova Aliança:
“Ninguém, portanto, vos julgue pelo comer, nem pelo beber, nem a
respeito de um dia de festa, ou de lua nova ou de sábado, as quais
coisas são sombras das vindouras, mas o corpo é de Cristo”. –
Colossenses 2:16,17
Foi com esta mentalidade (de aplicar as sobras e figuras), e não
tentando retroceder a uma prática literal da lei mosaica, que o apóstolo
Paulo nos revelou a aplicação espiritual da Lei das Primícias no Novo
Testamento:
“Mas se as primícias são santas, também a massa o é; e se a raiz é santa, também os ramos o são”. – Romanos 11:16 (TB)
Os israelitas receberam do próprio Deus a ordem de consagrar a Ele os
primeiros frutos do ventre de suas mulheres, do ventre de seus animais e
também os frutos da terra. Na hora da colheita, o primeiro feixe
pertencia a Deus e deveria ser apresentado perante o Senhor pelo
sacerdote numa oferta de movimento. Destes primeiros frutos também se
fazia uma oferta de cereais. Portanto, Paulo estava ensinando que ao
santificar a primeira parte (a mais importante) você santifica também o
resto que vem depois dela. Quando alguém santificava as primícias
(primeiros frutos) santificava também tudo o que seria feito depois,
incluindo a massa da oferta de cereais e a dos pães que viriam a comer
depois.
Outra ilustração é ainda apresentada para fortalecer o entendimento
deste princípio: se a raiz for santificada (a parte mais importante, e a
que surgiu primeiro na formação da planta) os ramos e tudo o que surgir
depois dela também será santificado. Este era o entendimento que os
judeus receberam da lei de Moisés: se santificassem ao Senhor as
primícias de sua renda, estavam santificando o restante da renda que
ficava em suas mãos. Por isso Deus poderia fazer com que se enchessem
fartamente seus celeiros e transbordassem de vinho seus lagares! Isto
não só responde o que são as primícias, como nos mostra o poder que elas
tem de santificar o restante daquilo de que foram tiradas.
AS PRIMÍCIAS NO VELHO TESTAMENTO Deus ordenou clara e explicitamente a entrega das primícias (primeiros frutos) por meio de Moisés:
“As primícias dos primeiros frutos da tua terra trarás à Casa do
Senhor, teu Deus; não cozerás o cabrito no leite de sua mãe”. – Êxodo
34:26
A Tradução Brasileira (SBB), em vez de traduzir “primícias dos
primeiros frutos” neste versículo, optou por “as primeiras das primícias
da tua terra” pois duas palavras foram usadas com a idéia de primícias e
primeiros frutos juntas. De acordo com a Concordância de Strong, a
primeira palavra usada no original hebraico é “re’shiyth” que significa:
“primeiro, começo, melhor, principal; princípio; parte principal; parte
selecionada”. E a segunda palavra usada no original hebraico é
“bikkuwr” que significa: “Primeiros frutos, as primícias da colheita e
das frutas maduras que eram colhidas e oferecidas a Deus de acordo com o
ritual do Pentecoste; o pão feito dos grãos novos de trigo oferecidos
no Pentecoste; o dia das primícias (Pentecoste)”. Vemos, portanto, que
as primícias eram uma ordenança da Lei de Moisés. Porém, mesmo antes da
instituição da Lei, já vemos Deus trabalhando na compreensão do homem a
importância das primícias.
AS OFERTAS DE CAIM E ABEL
O diferencial encontrado nas ofertas de Caim e Abel está diretamente
ligado à entrega das primícias. Muita gente acha que o erro de Caim foi
trazer uma oferta dos frutos da terra, em vez de ofertar um cordeiro
(tipo do sacrifício de Cristo), mas não acho que seja este o verdadeiro
problema. A Lei das Primícias fazia com que cada um trouxesse os
primeiros do seu trabalho, e a Bíblia nos revela qual era o trabalho de
cada um deles: Abel foi pastor de ovelhas, e Caim, lavrador (Gn.4:2).
Logo, as primícias de Caim teriam que ser do fruto da terra!
A Bíblia diz que Deus atentou na oferta de Abel, a oferta correta. E a
primeira menção das primícias nas Escrituras é encontrada justamente
neste oferta:
“Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da terra
uma oferta ao Senhor. Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu
rebanho e da gordura deste. Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta;
ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou”. – Gênesis 4:3-5a Note
que Caim trouxe sua oferta NO FIM DE UNS TEMPOS. Independentemente de
quais tempos sejam estes a que a Bíblia se refira (tempo de colheita, de
ofertas, etc.), Caim não honrou a Deus com os primeiros frutos. A
entrega das primícias é uma forma de reconhecer Deus em primeiro lugar.
Por outro lado, deixa-lo para o fim significa não dar a Ele o primeiro
lugar. E o Senhor não aceitou isto de Caim, como não aceita isto de nós
hoje.
Agora veja bem, se Caim não soubesse a forma correta de oferecer algo
ao Senhor, não poderia ser culpado, mas ele sabia a forma correta de
fazer. Vemos isto na conversa que Deus tem com ele depois de rejeitar
sua oferta:
“Irou-se, pois, sobremaneira, Caim, e descaiu-lhe o semblante. Então, lhe disse o Senhor: Por que
andas irado, e por que descaiu o teu semblante? Se procederes bem, não é
certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado
jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo”. –
Gênesis 4:5b-7
O Senhor falou que Caim sabia que se procedesse bem seria aceito e
que se procedesse mal o pecado estava à sua porta. Abel procedeu bem ao
fazer de Deus o primeiro e trazer as primícias, enquanto Caim procedeu
mal ao deixar Deus por último, para o fim.
SEMENTE DE BÊNÇÃOS
Na verdade, a entrega das primícias é uma semente para entrar nas
bênçãos de Deus. O Senhor fez uma promessa a Abraão e sua descendência.
Mas, como Paulo escreveu aos romanos, a forma de santificar o resto de
alguma coisa, é santificando ao Senhor as primícias daquilo. Portanto,
Deus, que se move por seus princípios, pediu a Abraão as primícias de
sua descendência: Isaque. E depois, passa a defender toda a descendência
de Abraão como se todos fossem aquele primogênito entregue. Veja a
mensagem que Deus deu para Moisés entregar ao Faraó egípcio:
“Dirás a Faraó: Assim diz o Senhor: Israel é meu filho, meu
primogênito. Digo-te, pois: deixa ir meu filho, para que me sirva; mas,
se recusares deixá-lo ir, eis que eu matarei teu filho, teu
primogênito”. – Êxodo 4:22, 23
Deus mandou dizer que Israel era seu primogênito (fruto da
consagração das primícias de Abraão), e que se Faraó não o libertasse,
então os primogênitos do Egito é que sofreriam. E foi o que aconteceu.
Mas num registro posterior, no livro de Salmos, observe como é descrito o
juízo divino sobre os primogênitos egípcios:
“Feriu todos os primogênitos no Egito, as primícias da virilidade nas tendas de Cam”. – Salmos 78:51
“Também feriu de morte a todos os primogênitos da sua terra, as primícias do seu vigor”. – Salmos 105:36
Em ambos os casos eles são chamados de as primícias dos egípcios.
Isto faz com que entendamos aquela mensagem de Moisés a Faraó mais ou
menos assim: “Assim diz o Senhor: Israel é o meu primogênito, as
primícias consagradas de meu servo Abraão. Deixa ele livre para que me
sirva, senão eu julgarei os seus primogênitos, primícias de sua força”. A
questão das primícias sempre traz conseqüênci
as espirituais. Honrar ao Senhor com a entrega delas traz bênçãos, mas brincar com Deus no tocante a isto gera juízo!
A COMPRA DOS PRIMOGÊNITOS DOS ISRAELITAS
Deus pediu aos israelitas a consagração de todo primogênito:
“Disse o Senhor a Moisés: Consagra-me todo primogênito; todo que
abre a madre de sua mãe entre os filhos de Israel, tanto de homens como
de animais, é meu”. – Êxodo 13:1 e 2
E explicou a razão disto:
“Quando o Senhor te houver introduzido na terra dos cananeus, como te
jurou a ti e a teus pais, quando ta houver dado, apartarás para o
Senhor todo que abrir a madre e todo primogênito dos animais que
tiveres; os machos serão do Senhor. Porém todo primogênito da jumenta
resgatarás com cordeiro; se o não resgatares, será desnucado; mas todo
primogênito do homem entre teus filhos resgatarás. Quando teu filho
amanhã te perguntar: Que é isso? Responder-lhe-ás: O Senhor com mão
forte nos tirou da casa da servidão. Pois sucedeu que, endurecendo-se
Faraó para não nos deixar sair, o Senhor matou todos os primogênitos na
terra do Egito, desde o primogênito do homem até ao primogênito dos
animais; por isso, eu sacrifico ao Senhor todos os machos que abrem a
madre; porém a todo primogênito de meus filhos eu resgato”. – Êxodo
13:11-16
Além de ensinar-lhes um princípio, o Senhor se movia por meio de um
ato de legalidade. Na verdade, quando protegeu e guardou os primogênitos
dos filhos de Israel, Deus os comprou. Usando a linguagem bíblica
podemos dizer que o Senhor os resgatou e se fez dono deles. Dali em
diante, todo primogênito era d´Ele e a consagração ao Senhor era o meio
de reconhecer isto. Para poder ficar com seus filhos, os pais deveriam
resgata-los de volta por meio de ofertas. Mas ao consagrarem o
primogênito, estavam santificando a Deus o restante de sua descendência.
CONSEQUÊNCIAS ESPIRITUAIS
Recentemente, li um livro do pastor Mike Hayes que ampliou meu
horizonte acerca das primícias, e o recomendo de coração: “Quando Deus é
Primeiro” (editado em português pela Willain Books). Ele me abriu os
olhos para o que foi de fato o pecado de Acã em Jericó. Jericó era a
primeira cidade a ser conquistada em Canaã. Portanto, de acordo com o
princípio das primícias, o despojo de guerra não era deles, e sim do
Senhor:
“Tão-somente guardai-vos das coisas condenadas, para que,
tendo-as vós condenado, não as tomeis; e assim torneis maldito o arraial
de Israel e o confundais. Porém toda prata, e ouro, e utensílios de
bronze e de ferro são consagrados ao Senhor; irão para o seu tesouro”. –
Josué 6:18,19
Os israelitas estavam proibidos de apropriar-se de qualquer coisa em
Jericó. Os tesouros deveriam ir para o templo e as demais coisas
(chamadas de coisas condenadas) deveriam ser destruídas. A Concordância
de Strong aponta que palavra hebraica aqui traduzida como condenada é
“cherem”, que significa: “uma coisa devotada, uma coisa dedicada,
proibição, devoção, que foi completamente destruído ou designado para
destruição total”. E tem como raiz a palavra hebraica “charam”, que por
sua vez quer dizer: “consagrar, devotar, dedicar para destruição”.
Traduções bíblicas como a versão Corrigida de Almeida traduzem esta
palavra como “anátema” passando uma idéia de que a razão pela qual não
se poderia tocar naqueles bens de Jericó eram por ser malditos. Mas a
definição bíblica era de algo consagrado para a destruição. Poderia
trazer maldição pela quebra de um princípio, mas não eram coisas
malditas em si mesmas. Assim como o primogênito da jumenta que não podia
ser sacrificado e tinha que ser resgatado ou desnucado, assim também
Deus especificou o que queria que fosse dedicado a Ele e o que fosse
destruído. O importante não era achar um uso para aquelas coisas, e sim
não tocar nas primícias do Senhor. E o exército de Israel obedeceu à
ordem que lhes fora dada:
“Porém a cidade e tudo quanto havia nela, queimaram-no;
tão-somente a prata, o ouro e os utensílios de bronze e de ferro deram
para o tesouro da Casa do Senhor”. – Josué 6:24
Mas um soldado chamado Acã desobedeceu à ordem divina:
“Prevaricaram os filhos de Israel nas coisas condenadas; porque
Acã, filho de Carmi, filho de Zabdi, filho de Zera, da tribo de Judá,
tomou das coisas condenadas. A ira do Senhor se acendeu contra os filhos
de Israel”. – Josué 7:1
A conseqüência de se quebrar este princípio, foi que a bênção para as
demais conquistas foi retirada de sobre Israel. Eles foram derrotados
na próxima batalha que exigia muito pouco deles, pois a Lei das
Primícias não foi obedecida. Quando se santifica ao Senhor as primícias
de algo, santifica-se também o restante. Quando se rouba a Deus nos
primeiros frutos, perde-se a sua bênção no restante.
Este princípio funciona em todas as áreas. Ao separarmos um tempo
pela manhã para buscarmos a Deus, e oferecermos em nosso devocional as
primícias do dia, estamos santificando o restante dele ao Senhor. Quando
separamos o dízimo, e aplicamos a Lei das Primícias dando a Deus a
PRIMEIRA décima parte da renda, estamos santificando as outras nove
partes restantes que ficam em nosso poder.
Alguns pregadores fazem diferença entre as primícias e o dízimo;
ensinam o cristão a doar o equivalente ao ganho de seu primeiro dia de
trabalho (além do dízimo). Outros ensinam a prática das primícias na
entrega do dízimo. A idéia das primícias não se prende tanto ao fato de
se é o ganho do primeiro dia ou o primeiro décimo da renda. O importante
é dar primeiro a parte de Deus antes de gastarmos com as outras coisas.
Acredito que o dízimo deve ser nosso item número um no plano de
contas do orçamento. Além de ser dado primeiro, deve refletir o fato de
que Deus vem em primeiro. Quando honramos ao Senhor com as primícias de
nossa renda, Ele também nos honra em nossas finanças.
Por outro lado, quando pensamos somente em nós mesmos, e não nos
preocupamos com as coisas do Senhor, ferimos sua primazia e perdemos
suas bênçãos. É o que ocorreu nos dias de Ageu, quando ele profetizou
que o povo só se preocupava com suas casas enquanto a Casa do Senhor
estava em ruínas. E justamente por colocarem-se a si mesmos em primeiro
lugar e deixar Deus por último (ou de fora) é que perderam as bênçãos
divinas.