A erosão da alma
Por Maurício Zágari
Um câncer começa com uma
única célula defeituosa. Um vírus microscópico é capaz de tirar uma
vida. Cupins menores do que uma unha conseguem destruir toda uma casa.
Uma pitada de veneno mata. Um punhado de grãos de cocaína são
suficientes para causar uma overdose letal. Bactérias ínfimas provocam
estragos monstruosos. Tudo isso são exemplos de que não é preciso algo
ser grande para gerar enormes danos. Em nossa vida espiritual não é diferente: muitas vezes são os “pequenos pecados” que acabam nos conduzindo a grandes quedas
– isto é, justamente os pecados que não consideramos muito
problemáticos é que poderão acabar nos afastando de Deus. Uma onda do
mar não destrói uma rocha. Na verdade, parece ter pouco efeito sobre
ela. Mas ponha uma onda, após outra, após outra. Adicione tempo. Em
alguns séculos você terá um buraco naquele pedaço de granito sólido e
aparentemente impenetrável. É o processo chamado erosão. Nossa alma
também pode ser vítima da erosão do pecado.
A Bíblia nos alerta para sempre
vigiarmos, em oração. E de fato fazemos isso. Tomamos precauções contra
muitos pecados e até que nós saímos bem. Evitamos andar nos becos
escuros das grandes tentações, pois sabemos que ali há transgressões
aguardando por nós atrás de cada poste. Mas nos expomos em plena luz do dia aos “pequenos pecados”.
Começamos praticando o que consideramos que são delitos menores,
aparentemente insignificantes. É a “mentirinha branca”, por exemplo,
aquela que “não faz mal a ninguém”. Ou somos só um pouquinho agressivos
com aquele vendedor de telemarketing que nos irrita ligando no sábado.
Que mal faz, afinal? Olhamos de cara feia para o cidadão no ônibus que
passou de qualquer maneira e
esbarrou na gente. Topamos não pedir nota fiscal do serviço que nos é
prestado, desde que o preço cobrado seja mais baixo, assim todos saem
ganhando! Fazemos aquela fofoquinha santa da irmã, porque, bem, não
chega a ser maledicência, né, é só um comentariozinho de nada. E por aí
vai. Ficamos descansados, achando que nada disso representa algo demais.
Só que “Um abismo chama
outro abismo” (Sl 42.7). O que acontece é que os pequenos delitos, os
“pecadinhos que não fazem mal a ninguém”, acabam nos acostumando ao
pecado. Nos insensibilizam à transgressão. E, com isso, passamos a ver a
desobediência a Deus como algo que não nos enoja mais. Algo
“aceitável”.
Por que
você acha que Jesus disse que não deveríamos nem ao menos chamar alguém
de “tolo”? Porque as desavenças nos acostumam ao ódio e, dentro de
algum tempo, dar um tiro em alguém não será algo tão mau assim. Por que
você acha que Jesus disse que se olhássemos para alguém com desejo no
coração já estaríamos adulterando? Porque a cobiça dos olhos dentro de
algum tempo nos acostuma ao delito e daqui a pouco deitar-se com alguém
não soa tão grave assim. Em outras palavras, a ética de Cristo estimula
você a cortar todo mal pela raiz, ela é preventiva e mostra que não
existe pecado “menos grave” que outro. Hoje você dá propina no trânsito;
amanhã no Congresso Nacional.
Estava pensando: será
que o primeiro pecado de Satanás foi a rebelião contra Deus, já no ato
do “golpe de estado” que tentou dar? Não posso afirmar, pois a Bíblia
não afirma, mas eu acredito que ele deve ter alimentado pecados – se não
na prática – pelo menos no seu coração por muito tempo. O motim foi o
clímax. Não acredito que ele foi para a cama como um querubim magnífico e
sem mancha e acordou dizendo “Acho que hoje vou me insurgir contra
Deus”. Muito difícil crer nisso. Especulo que tenha sido um longo
processo, talvez pontuado por algumas transgressões que ele considerava
“menores”. Claro, isso tudo é puro fruto da minha imaginação, mas me faz
todo sentido.
Cuidado com os pecados
que lhe parecem insignificantes. Eles não são. “Pecadinhos de nada” têm o
poder de uma bomba atômica. E eles vão fazer você se acostumar com o
ato de pecar. Uma vez que transgredir naquilo que você considera
inofensivo se torna uma prática tranquila aos seus olhos, você não vai
parar quando se deparar com algo que entende ser mais grave.
Simplesmente porque desobedecer Deus virou algo comum.
Não permita que isso ocorra. Convido você a refletir sobre
os seus “pequenos delitos”, aqueles a que não presta muita atenção, que
não o incomodam tanto assim. E o estimulo enfaticamente a abandonar a
prática desse delito. Ele não é insignificante. É maligno. É destrutivo.
Cam não achou que rir do pai bêbado era algo muito problemático. Adão e
Eva devem ter pensado que, ora bolas, era apenas uma frutinha. Davi
possivelmente se convenceu de que “ah, será só um recenseamento”. Saul
talvez tenha suposto que somente um sacrifício sem a presença do profeta
não seria lá grande coisa. Deu no que deu.
Você pode se considerar
uma rocha de santidade. Talvez creia que está tão alerta contra as
tentações que nada vai te alcançar. Mas as ondas estão batendo. A erosão
está destruindo as suas defesas contra o pecado. Se você não tomar uma
providência agora mesmo… a montanha inteira pode vir abaixo.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício
Fonte: Apenas
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