Quando a igreja não serve para nada
Por Davi Lago
O relato de Mateus 17.14-21 nos ensina lições valiosas sobre os discípulos de Jesus.
A narrativa informa que havia um jovem
possesso pelo mal. Um jovem que tinha ataques e sofria muito. Somos
informados que ele caia “no fogo ou na água” (Mt 17.15b). O rapaz era um
exemplo supremo de destruição com fortes tendências suicidas. Infelizmente, há muitos jovens assim em nosso tempo. Jovens vivendo literalmente com um comportamento autodestrutivo.
Somos informados que o
pai daquele rapaz “aproximou-se de Jesus, ajoelhou-se diante dele e
disse: ‘Senhor, tem misericórdia do meu filho. Ele tem ataques e está
sofrendo muito” (Mt 17.14-15a). O homem estava aflito com a situação
espasmada do filho. Assim como fazem muitos pais hoje, aquele homem
queria ajudar seu filho. Ele intercedeu humildemente diante de Jesus buscando ajuda.
É nesse ponto que
aparece uma informação triste: os discípulos de Jesus não tinham poder
para ajudar o rapaz. Enquanto Jesus estava no monte vivenciando um
momento glorioso com Pedro, Tiago e João, os outros discípulos na
planície eram inoperantes.
Esse é um alerta urgente
para a igreja hoje! Precisamos de poder! Não podemos ser
crentes-árvore-de-natal: enfeitados, mas sem frutos. Não basta pregarmos
sermões bem elaborados e intelectualmente perfeitos. Do mesmo modo, não
basta pregarmos mensagens emotivas e sentimentalistas. Precisamos de
poder! De nada vale empolgação sem transformação. De nada valem eventos e
shows sem compromisso com o
discipulado. Aliás, vivemos numa cultura cristã saturada de eventos.
Como disse o pastor Simonton Araújo, o próprio termo se condena:
“evento”, “é vento”. Na verdade, muito do que a igreja faz sob a imagem
de evangelismo, não passa, afirmou o pastor Araújo, de “pesca
esportiva”. O evento fisga pessoas, mas depois as solta tranquilamente
para o mundo.
Precisamos de poder.
Precisamos perguntar hoje o que o apóstolo Paulo questionou aos gálatas:
“Será que vocês são tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, querem agora se aperfeiçoar pelo esforço próprio?” (Gálatas 3.3).
Portanto, podemos questionar: Quando a Igreja não serve para nada?
Jesus mesmo disse aos seus discípulos no sermão do monte que o sal insípido “não serve para nada”. Podemos refletir sobre isso nessa passagem do evangelho de Mateus.
Quando a Igreja não serve para nada?
1. A Igreja não serve
para nada quando não cumpre sua missão. O pai do garoto disse: “Eu o
trouxe aos teus discípulos, mas eles não puderam curá-lo” (Mateus
17.16). Perceba que Jesus enviou seus discípulos e os comissionou
explicitamente: “expulsem demônios” (Mateus 10.8). Mas aqui estão eles
impotentes diante da missão. A Igreja precisa cumprir seu chamado,
deixar de ser ensimesmada e partir para ação. Como diziam líderes
cristãos do passado: “sal fora do saleiro”. Podemos dizer também:
“carta-viva fora do envelope” ou “perfume
fora do frasco”. Na sociedade contemporânea
devemos cumprir nossa missão. Hoje o Ocidente tornou-se um campo
missionário novamente. Devemos estar preparados e cheios de poder do
alto para anunciarmos o evangelho num mundo pós-cristão, relativista,
hedonista e secularizado.
2. Além disso, a Igreja
não serve para nada quando falta poder espiritual. Os discípulos “não
puderam” curar o jovem. Não tinham poder. Havia lacuna de unção. Como é
triste ver a que estado chegaram denominações cristãs que tiveram um
passado reluzente sendo conduzidas por caminhos de liberalismo
teológico. O resultado não foi outro: falta de poder espiritual,
reuniões esvaziadas, ruína da moral. Chorei ao visitar alguns prédios na
Inglaterra que em outros séculos foram celeiros missionários, locais de
fervorosas reuniões de oração e exposição poderosa das Escrituras,
transformados hoje em hotéis
e restaurantes. Precisamos urgentemente da unção do Espírito Santo!
3. Do mesmo modo, a
Igreja não serve para nada quando lhe falta fé. Jesus, indignado, disse:
“Ó geração incrédula” (Mateus 17.17). Depois foi inquirido pelos
discípulos: “Por que não conseguimos expulsá-lo?”, ao que Jesus
respondeu: “Porque a fé que vocês têm é pequena” (Mateus 17.20). Ora,
sem fé é impossível agradar a Deus. Conta-se que um jovem pregador
perguntou para o experiente pastor Charles Spurgeon: “Por que
pouquíssimas pessoas se converteram a Deus através do meu ministério?”.
Spurgeon o questionou: “Mas você acha mesmo que milhares de pessoas se
converterão a Cristo através de você?”. “Ah! Acho que não!”, respondeu o
jovem. “É justamente por isso que seu ministério é mínguo e pouco
eficaz” encerrou Spurgeon. Na teoria até os super-heróis das histórias
em quadrinhos são cristãos: Clark Kent é metodista, Bruce Wayne é
anglicano, Hulk e Demolidor são católicos. Mas nunca vimos nenhum deles
anunciando Jesus Cristo. Há muitos vivendo um cristianismo light,
brando, nominal. Precisamos exercer nossa fé!
4. Podemos aprender
ainda que, a Igreja não serve para nada quando não há comunhão com Deus.
Jesus disse que aquela “espécie” de demônios só sai pela oração (Mateus
17.21. Este versículo não aparece em certos manuscritos antigos das
Escrituras, mas de qualquer forma está registrado nos manuscritos de
Marcos, precisamente em 9.29). Alguém, por favor, me responda: Qual o
sentido de ser discípulo de Jesus se você não o segue de verdade,
não se relaciona com ele? Se alguém professa Jesus e não ora, é um
cristão nominal. Oração é comunhão com Deus. Já disse Spurgeon: “uma
alma sem oração é uma alma sem Cristo”. O que nós precisamos fazer é
orar! Vale mais 1 hora com Jesus do que a vida inteira na companhia de
outras pessoas. “Quanto mais presença de Jesus na sua vida, menor sua
carência pela adulação dos outros”, disse Brennan Manning. “Ore por
grandes coisas, trabalhe por grandes coisas, espere grandes coisas, mas
acima de tudo, ore”, afirmou Torrey. Você ajuda mais a humanidade orando
do que fazendo qualquer outra coisa.
Mas não há motivo para aflição. Se os homens falham, podemos ter certeza que Jesus nunca falha.
A poderosa ação de Jesus
De modo oposto aos
discípulos sem poder, Jesus exerce sua autoridade espiritual. Jesus
desce do monte da glória e vem de encontro às necessidades de uma
multidão sofrida. Enquanto a religião é o homem buscando Deus, o
evangelho é Deus buscando o homem. Desde a pergunta divina para Adão
registrada em Gênesis 3.9: “Onde está você?”, o Senhor está em busca do
homem. Jesus então sai da presença do Pai e vai de encontro a um jovem
possesso.
“Jesus repreendeu o
demônio; este saiu do menino que, daquele momento em diante ficou
curado” (Mateus 17.18). Jesus é assim: enquanto o Diabo destrói a
pessoa, Jesus a coloca de pé. Jesus estava cheio de poder. Ele disse no
início de sua ação: “O Espírito do Senhor está sobre mim” (Lucas 4.18). O
evangelho diz que “todos procuravam tocar nele, porque dele saía poder
que curava todos” (Lucas 6.19). Uma mulher doente tocou em Jesus e foi
curada. Nosso Senhor disse: “Alguém tocou em mim; eu sei que de mim saiu
poder” (Lucas 8.46). Precisamos do poder do Espírito Santo. Jesus nos
deu uma missão sobrenatural e também uma capacitação sobrenatural.
Sem engajamento na
missão, sem transformar vidas, sem poder, sem fé, sem comunhão com Deus,
a Igreja não serve para nada. Acaba se tornando um mero ajuntamento de
pessoas. A Igreja vira um clube e perde sua razão de ser. Se a Igreja
perde sua razão de ser ela é como sal insípido e não serve para mais
nada, além de ser lançada fora e pisada pelos homens. Havia estradas
pavimentadas com sal na Antiguidade. Sal sem gosto só serve para ser
pisado, afirmou Jesus.
Portanto, se a igreja
perde seu propósito de existir, o culto é mera performance, uma perda
absoluta de tempo, um evento para fanáticos e pessoas desorientadas. Sem
razão de ser a Igreja se torna lugar de gente tola. Haveria muito mais o
que fazer do que pertencer à Igreja. Pode até haver gente religiosa que
continuaria na Igreja, mas com certeza não seria meu caso e, creio eu,
da maioria das pessoas.
Se eu não conhecesse
Jesus, o poder de Deus, a glória de servi-lo, a alegria da salvação, a
força da oração, o renovo do Espírito Santo, a razão da existência em
Cristo, a transformação do meu caráter, a purificação da minha
consciência e tudo que vivencio diariamente com Deus, eu jamais
devotaria minha vida a outra religião. Só me restaria o ateísmo, o
niilismo, a vida absurda, inócua, vazia e sem esperança. Talvez eu fosse
até mesmo condenado ao suicídio. Todas as outras opções do supermercado
religioso contemporâneo, o agnosticismo, o deísmo e etc, não me fazem o
menor sentido. Como Pedro perguntou em tom retórico: “para quem iremos
nós se só tu tens as palavras de vida eterna?”. Se Jesus fosse um
engodo, não haveria a quem recorrer. Confúcio, Maomé, Kardec, Marx?
Perdoem-me os sinceros seguidores desses líderes, mas nenhum deles tem
para mim respostas satisfatórias. Tenho franco respeito por eles, mas
nenhum deles derramou gotas de sangue por mim. Nenhum deles foi açoitado
no meu lugar. Nenhum deles foi humilhado por mim. Nenhum deles foi
crucificado por mim. Nenhum deles morreu por mim. Nenhum deles
ressuscitou dos mortos. Nenhum deles me amou até o fim. Nenhum deles e
nenhuma outra pessoa. Isso faz de Jesus Cristo único. Ele é
incomparável, inigualável, supremo.
Assim, se eu não tivesse
absoluta convicção que meus pecados foram perdoados mediante o
sacrifício de Jesus na cruz, a única alternativa que faria lógica para
mim seria o ateísmo. E, para isso, não seria sequer necessário ler
Nietzsche, Freud, Hitchens, Dawkins, Harris. Seria perda cabal de tempo e
paciência.
Mas eu genuinamente
conheço Jesus Cristo. Como Jó eu digo: “Eu sei que meu Redentor vive”.
Como Paulo eu afirmo: “Eu sei em quem tenho crido”, ou ainda “já não sou
mais eu quem vive, mas Cristo vive em mim”. Eu creio em Deus, eu vivo
para ele. Como disse David Brainerd, “se eu tivesse mil vidas eu
entregaria todas elas a Cristo”. Tenho uma linda família, tenho diplomas
universitários, tenho uma bela casa, tenho prazer em viver, mas nada,
absolutamente nada, se compara com meu deleite em Jesus Cristo. Se
comparado com a suprema grandeza de Jesus Cristo, toda minha vida é
poeira inútil. Ele é meu Alfa e meu Ômega. Dele, por ele e para ele
quero viver. Quero anunciar tudo que ele fez por mim até o último
suspiro, a última batida cardíaca e a última gota de sangue.
Fica para nós o desafio.
Não podemos ficar acuados ante os ataques malignos. São os demônios que
devem correr de nós. Li que o desbravador Vasco da Gama atravessava uma
terrível tempestade em sua segunda viagem em direção à Índia. Os
marinheiros estavam desesperados porque as ondas estavam açoitando a
embarcação violentamente. Quando alguns membros da tripulação se deram
por vencidos e começaram a chorar aflitos, os relatos dizem que o
capitão Vasco da Gama começou a gritar e urrar para aqueles homens em
meio à tormenta: “Levantem! Levantem! Vocês não devem temer o mar! É o
mar que está aterrorizado com a nossa presença!”. A tripulação recobrou o
animo, lutou bravamente e passou pela tempestade. Assim, os discípulos
não devem temer o mal: maior o que está em nós! Jesus possui todo poder e
autoridade!
Devemos buscar com
paixão o Espírito Santo de Deus. Se não estivermos cheios de Deus não há
como transbordamos! Sem enchimento não há vazão. Conforme registrado em
Mateus 17.20b), Jesus disse: “Eu lhes asseguro que se vocês tiverem fé
do tamanho de um grão de mostarda, poderão dizer a este monte: ‘Vá daqui
para lá’, e ele irá. Nada lhes será impossível”.
Para a Igreja cheia de poder, nada é impossível.
Fonte: NAPEC